O palco onde a escolhera não era incomum. Freqüentava-o todos s tipos conhecidos, desde a adolescente vibrante com o bilhete do primeiro namorado à mulher de trinta afogada na primeira crise existencial; da criança birrenta lambuzada de sorvete ao caminhoneiro lascivo manchado de óleo tão negro quanto sua alma. O tipo que ele representava, no entanto, jamais passara por ali. À distância, impunha respeito, autonomia, poder descomunal, um deus que habita o Olímpio. Elizabeth só o percebera quando estava à sua frente, tomando-lhe das mãos o Stephen King que lhe prendia os sentidos.
A princípio, indignou-se com a prepotência de quem se atrevera a despertar-lhe do transe em que se encontrava, mas a revolta se desfez ao fitar aqueles olhos profundos, cheios de um mistério que te obriga a desvendá-lo, prende-te como um cometa na órbita elíptica de um planeta. Não falou, seus olhos disseram-lhe tudo. Levantou-se e saiu. Como um cometa, ela o seguiu. Encontrou-o encostado num Audi preto, ao maior estilo Dan Brown, com os braços cruzados exibindo os músculos protuberantes, de fazer delirar à menor faísca da imaginação. Exibia, ainda, uma máscara rígida, como se sentisse dor aguda e constante. Havia um leve cheiro de ferrugem, o qual a garota não percebeu, tão hipnotizada como estava.
Apresentaram-se formalmente, mas não perderam tempo com banalidades. Ambos estavam ligados de forma tão intensa que chegaram ao ponto máximo das declarações sem ao menos conhecer um terço da personalidade do outro. Chamem de bobagem, de ilusão, de falso amor, mas o que os movia não era nenhuma fantasia de ter encontrado a cara metade. O que os tornava tão íntimos não estava descrito em nenhum poema de amor que tanta gente escreve. O que os prendia ali era a simples atração carnal. Simples pra quem crê que o amor pode ser fruto de amizade e permanecer assim, sem as trocas de calor, sem o ritmo frenético das atividades mais voluptuosas e vis de um casal. Mas para aqueles dois seres, essa atração era maior do que qualquer ligação sentimental que os maiores poetas da história imaginaram. Uma força descomunal impedia que se separassem, e desabavam declarações na tentativa inútil de disfarçar aos observadores a lascívia das suas intenções.
O coração daquela mulher, desde que vira aqueles olhos penetrantes, pulava no peito e fazia a veia do seu pescoço dançar sob a pele fina e macia. Ela já sentira isso outras vezes, deveras com outros impulsos. Da última vez que a respiração estava tão acelerada, foi ao encontrar o suposto amor de sua vida, um cara que conhecera há anos e depois de alguns meses de relacionamento meloso, descobrira que ele a traía, antes mesmo de começarem a se encontrar. Agora, a situação era oposta. Ao invés de ser movida por aquele sentimento suposto sublime e invencível, estava sendo atraída não pela honra e caráter desse homem, mas pelo mistério de seus olhos e pelas formas de seu corpo.
Para ele, o cheiro que emanava da alma dela era convidativo. Mais que isso, obrigava-o a aproximar-se da dona de tão doce fragrância. Além disso, as formas redondas e sobressalentes daquela moça sem extravagâncias, discretamente sentada lendo aquele tão curioso livro, deixando à mostra parte do seio avantajado mas sem exageros, os cabelos graciosamente presos; todos aqueles detalhes tão sutis davam-na um ar de delicadeza revestida de poderosa volúpia, que o atraia, despertava-o os mais profundos instintos animais, resquícios da época onde se desconhecia sentimentos e as únicas obrigações eram sobreviver e reproduzir.
Seu primeiro beijo aconteceu bem ali, no estacionamento, e não exigiu trilha sonora como aquelas que embalam os beijos dos apaixonados em todo e qualquer filme, tampouco foi precedido de carícias cuidadosas. Ao contrário, foi repleto de fogo interno, como um vulcão prestes a explodir. Sem a timidez das mãos, elas deslizavam pelo corpo de ambos, como já conhecessem o caminho e estivessem acostumadas a fazê-lo. O beijo frenético culminou em carícias mais profundas e, sendo impróprias para o ambiente externo, foram interrompidas pelo tempo que os separava da lanchonete e o quarto de Lizzie.
Durante aquele primeiro dia, ele limitou-se às ações supostamente conhecidas pela garota. Não queria assustá-la, mostrando-se conhecedor dos mais profundos segredos do corpo feminino, muito menos com sua real intenção. Mas se estivesse disposto, poderia fazer o que desejasse com aquela mulher movida pela ânsia de sentir cada centímetro do corpo dele o mais próximo do seu possível, tornando-se um só não pelo sentimento, mas pela junção mútua de seus corpos. Ela estava completamente alucinada, sem ter em mente os riscos que corria com aquele homem, tendo consciência apenas da parte física de ambos.
Ele, por mais que se sentisse completamente atraído a ela, ainda mantinha em foco seu verdadeiro objetivo: unir em perfeita harmonia, chegando ao máximo do prazer, o exterior e o interior do corpo daquela sedutora e mágica mulher.
Mesmo depois daquela tarde de lascivas e voluptuosas relações, não assumiram compromisso. O que sentiam pelo outro, não era nada que os fizesse namorar, apenas atração carnal. Entretanto, inconscientemente mantiveram fidelidade. Depois daquela extrema explosão de desejos e prazeres, quaisquer outras pessoas pareciam insignificantes. Ele também percebera a desqualificação das suas antigas companheiras, mas precisava daquela união mais do que tudo. Então, se dispôs a encontrar-se com outras mulheres, sem o mesmo prazer que sentia com Elizabeth, é certo, mas ainda assim satisfatórios. Para suprir parcialmente a falta que sentia de sua legítima companheira, via-se obrigado a utilizar mais do que de costume do interior dos corpos das mulheres temporárias. Demorava-se a mostrar-se completamente para Lizzie porque o que ela o proporcionava era imensurável, de modo que esperara poder usufruir dela durante longo tempo, não só uma vez, como era seu habitual.
Depois de uma semana de secretas noites, ele estava completamente perturbado, em uma verdadeira crise de abstinência. Temia não se controlar, mas deveria cumprir com seu papel, estando ou não preparado.
No ápice do seu prazer, enquanto seus quadris trabalhavam freneticamente, não pôde se conter. A mão esquerda soltou a coxa de Lizzie, que não percebeu o movimento, tão entretida estava com seus movimentos lascivos, e a unha de seu polegar encontrou-se com o meio do pescoço fino e palpitante daquela mulher. Apertou-o, feriu-o, sangrou-o. O líquido já conhecido desceu pelo corpo daquela que ainda mantinha seus movimentos, e enquanto ele bebia direto do corte profundo, seus próprios quadris aumentaram o ritmo, mantendo concentrada e extasiada de prazer a mulher em seus braços.
O êxtase dela não se podia comparar com o dele. Ela estava sentindo externamente, ele estava prazeroso por completo, enquanto bebia do sangue que por tanto tempo esperou e controlou-se. Explodindo de prazer, sabia que seria hora de parar, se ainda quisesse senti-la outras vezes, mas a abstinência o transformara em mais animal do que já era quando se encontrava com ela, então não parou. Sugava até faltar o fôlego, embebia-se naquele líquido quente, escuro, com o delicioso sabor da adrenalina. Só percebeu que estava passando dos limites quando o corpo tão desejado jazia sem vida em seus braços, ainda quente por causa da atividade recente.
Lizzie não sentira dor. Quando percebeu o que estava acontecendo, lutou com todas as suas forças para libertar-se, mas não por muito tempo. Não porque estivesse com pouco sangue e sem resistência, afinal não sentia dor, mas parou porque estava gostando. Ela também se beneficiou daqueles minutos incomuns, sentindo algo mais poderoso correr por suas veias enquanto o sangue saía pelas artérias.
Ele não sofreu com a perda daquela tão deliciosa mulher. Apenas ressentiu-se um pouco, queria mais noites como aquelas. Abandonou o corpo dela na floresta da outra cidade, deixando os animais livrarem-se da carcaça e procurou outra vítima. Vampiro? Não. Humano como qualquer um de nós. Era desprovido de sentimentos, com certeza, mas gostava de divertir-se, e aproveitar o interior dos corpos das mulheres foi o jeito que encontrou de elevar-se ao ápice do prazer.
Ficou curioso? Vá em frente. Só seja cauteloso para não se viciar.
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