terça-feira, 12 de outubro de 2010

No inicio, era uma simples dor. Incômodo na garganta, só isso. Não se lembrara do primeiro dia que sentira aquele formigamento. Veio tão sutil que quando se deu conta lá estava ele. Talvez tivesse começado durante a noite, ou enquanto discutia com a mãe sobre aquele projeto idiota de reformar a cozinha. Realmente não se importara. Não causava incômodo, não o impedia de dormir. Mas não continuou sutil. Aos poucos, a sensação de patas de insetos caminhando dentro de si tornou-se mais acentuada, mais ávida. Até que ficou insuportável. Não eram mais insetos, eram mãos rasgando-lhe o pescoço por dentro, dilacerando-lhe a traquéia, impedindo-o de respirar. Procurou médicos, hospitais de renome, nada foi diagnosticado. Motivo? Não havia nada de anormal por ali. Inúmeros exames e testes realizados, nenhum apontou ao menos uma falha ou infecção. Tudo bem. Não, não estava tudo bem. Ele sentia aquela dor acentuada e aguda. Há dias não dormia, não se alimentava, estava definhando, enlouquecendo. E a dor aumentava. Em constante progressão, sem interrupções, ia dando pontadas e cabriolas dentro de seu corpo. Os pulmões imploravam por oxigênio, mas a passagem estava bloqueada. Uma criaturinha mal-criada e sádica instalara-se ali e não o abandonava. Impedia o tráfego de ar ou alimentos, deixando uma mínima abertura para que seu hospedeiro não morresse asfixiado. Mas não era o suficiente. Ele precisava de mais, precisava recompor o fluxo constante de ar para que suas células sobrevivessem. O problema é que as mãos não sumiam! Continuavam ali, apertando-lhe o pescoço, fazendo palhaçadas enquanto ele enlouquecia. Tormento, tortura. Não suportava tanto! Era forte, sim, mas suas chances eram nulas contra mãos invisíveis, interiores. Lutou, persistiu, suportou até o último fôlego. Estava literalmente sufocando. O ar de seus pulmões esvaia-se a doses largas, tentava sugar o oxigênio da sala bem ventilada, não adiantava. Era só expiração. Era todo desespero. Era o último resquício de vida. As mãos que agora lhe dilaceravam o pescoço eram as suas, munidas de uma faca, tentando sobreviver, respirar. Sabia que em algum ponto abaixo do pomo-de-adão acharia sua salvação, no entanto não era nenhum cirurgião. Na tentativa frenética de conseguir alguns minutos de existência, cortou-se repetidamente, encontrando a própria aorta e o próprio fim.


Ao saber da notícia, a garota rir-se-á. Sua erva realmente surtiu efeito. A curandeira não a enganara. Tivera o destino merecido. Ninguém mandou negar-lhe um beijo.
Dhay S.

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