quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

 

Algumas vezes eu fiz muito mal para pessoas que me amaram. Não é paranóia não. É verdade. Sou tão talvez neuroticamente individualista que, quando acontece de alguém parecer aos meus olhos uma ameaça a essa individualidade, fico imediatamente cheio de espinhos - e corto relacionamentos com a maior frieza, às vezes fico fria, sou agressiva e tal. É preciso acabar com esse medo de ser tocado lá no fundo. Ou é preciso que alguém me toque profundamente para acabar com isso.
(Caio Fernando Abreu, mas é a mais pura verdade)

domingo, 19 de dezembro de 2010


-
 

Get real, please. I wanna be free!

 

- Onde estão os homens? A gente se sente um pouco só no deserto.

- Entre os homens a gente também se sente só.

sexta-feira, 17 de dezembro de 2010






Isso aqui é um sonho. Você acha que não é, porque o seu subconsiente está trabalhando
arduamente para manter todo esse teatro. Mas esse mundo é mentira,
é um produto da sua imaginação! Acredite, você está dormindo, você está sonhando.
E o único meio de acordar, é morrendo.

'cause it's better.

domingo, 12 de dezembro de 2010


"Essa dor era nova, e imensa — muito maior do que qualquer coisa que tivesse vivido até aquele momento. Dobrou seu corpo para trás como uma vara verde, seu tronco se contorceu de um lado para o outro, os joelhos estalaram ao abrir e fechar bruscamente. Os cabelos voaram em grumos e mechas empastadas. Tentou gritar e não pôde. Por um instante pensou que chegara ao fim da linha. Uma convulsão final, com a força de seis bananas de dinamite enfiadas numa pedreira, e lá se vai você, Jessie; a caixa registradora fica na saída à direita."

(Jogo Perigoso - Stephen King)


 

-Garçom, uma dose de vácuo, por favor! 

"What's happenning?", he asks.
"Nothing, nothing.", she lies.
  
É, baby, as coisas se inverteram por aqui .

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Desse espírito [da perversidade], a filosofia não toma conhecimento. Não obstante, tão certo como existe minha alma, creio que a perversidade é um dos impulsos primitivos do coração humano - uma das faculdades, ou sentimentos primários, que dirigem o caráter do homem. Quem não se viu, centenas de vezes, a cometer ações vis ou estúpidas, pela única razão de que sabia que não devia cometê-las? Acaso não sentimos uma inclinação constante mesmo quando estamos no melhor do nosso juízo, para violar aquilo que é lei, simplesmente porque a compreendemos como tal?

(O Gato preto - Edgar Allan Poe)


Dissimulação reina soberana e insolúvel.


E, no fim, tudo o que eu precisava era de alguém que me ouvisse  
sem me dizer o que fazer
que depois me embalasse confortando o meu soluço, 
que me sussurrasse que tudo vai passar,
tudo, tudo vai passar.

(Dhay S.

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Aceite os fatos. Você cresce um dia. E não adianta a mamãezinha ficar te abrigando sob a barra do vestido, porque a vida é cruel, ela rasga laços e fitas. Pois bem, querida, seu filhinho um dia vai embora. Ele um dia terá que trilhar seu próprio caminho. Seja com 16 anos ou 36. Não percebe que tudo o que o impede de alcançar o topo é você? Que a todo o momento segura-o pelos cabelos e obriga-o a não chegar tarde em casa. E quando a realidade aparecer, tarde demais. Ele vai ser um adulto criança. Com o tamanho de um boi e a maturidade de uma ervilha. Assim ele não vai a lugar nenhum! Mas também não pode ficar contigo. O que ele faz? Vai embora, é. Tenta montar a vida, construir castelos. Mas estava sempre tão confiante que nunca precisaria andar sozinho, que nunca soltou a mão da mamãe e as pedras de sustentação foram substituídas por grãos de areia. Atingida pelo vendaval da mudança, a areia se foi. Então onde ergueria seu castelo? Em lugar nenhum, exato. Passará o resto de seus dias na lama. Nadando com jacarés e piranhas prestes a te devorar. E não poderá defender-se. Nunca aprendera a lidar com gente má. Talvez com os fofoqueiros da escola ou os badboys no bairro, mas não com gente má. Gente de verdade, que luta para sobreviver. Gente que está disposta a tudo. Gente que pode trair. Gente que pode mentir. Gente que pode matar. Não com essa gente. Essa gente não estará escondida nas sarjetas, esperando que alguém caia, não. Essa gente está pelo meio da pirâmide, está pelo topo. E assim que ele pisar os pés no mundo real, devorá-lo-ão.  Sem o mínimo de piedade. O mundo não é piedoso, querido. Olhe para frente, enxergue a verdade! Você não está preparado! Não vale a pena lutar! Será massacrado, humilhado, execrado! Você é só um bebê mimado que sempre se escondeu atrás da mamãe. E agora?! Ela não o salvará. Não virá ao seu encontro para te dar colo. Não virá te confortar. Você é bem grandinho, meu filho, resolva seus problemas sozinho. E essa palavra, esse toque, doer-te-á mais que tudo. Ver-se-á numa terra de gigantes. Gigantes malvados, mamãe! Eles querem me comer! Não posso ficar aqui! Pare de chorar e enfrente o mundo, rapaz! Não te criei para ser um fracassado! Tem certeza? Certeza que não o estragou? Talvez ele pudesse ter sido um empresário de sucesso, alguém bem-sucedido. Mas você não o deixou voar. O mundo era perigoso, tinha muitos bandidos pela rua. Não o condene pelo fracasso. O erro foi seu. Única e exclusivamente sua culpa. Agora, assuma a criatura fraca e insossa que produziu. Ele é sua responsabilidade.

(Dhay S.

domingo, 5 de dezembro de 2010



Só enxergo o que eu não posso ter, mas se qualquer dia eu conseguir,  
vai perder a cor, desaparecer, como tudo que me fez feliz.

(40 Dias no Espaço - Leoni)
Um trauma de infância. Mas nele, o efeito foi inverso. Ao ser mordido por um cachorro, podem ter pavor deles. Encontrou uma cobra, enquanto andava pela floresta? Nunca mais desejará vê-la de novo. Tivera contato com essas criaturas muito cedo. Talvez a inocência inibisse o medo, a implantação tardia dos padrões impediu a repugnância daqueles inúmeros olhos, das patas cobertas de pêlos. A hostilidade familiar obrigava-o a isolar-se nos fundos. Troncos caídos, montes de folhas secas. Ambiente suscetível ao aparecimento de seres marginalizados. Na primitiva sociedade onde ele convivia, considerar-se-ia à margem, também. Então, ali estava em casa. Desenvolveu o gosto por aranhas assim que se viu emaranhado numa teia e prestes a ser atacado por inúmeras. Sem gritos nem histeria, somente movido por pura intuição e curiosidade, desfez-se da armadilha e, com cautela, aproximou-se daquelas que há pouco seriam seu carrasco. Organizadas, diferentes, cheias de patas! Serviriam como um bom objeto de estudo. Livros eram seu universo. Leu e absorveu tudo o quanto pôde encontrar. Incríveis, magníficos animais! Aracnofilia era a sua doença. Começou pela teoria, mas preferiu a prática. Montava esconderijos para suas amigas, alimentava suas crias. Essa era, particularmente, a parte mais excitante. Via-as liquefazendo as vítimas, deixando o exoesqueleto exclusivamente intacto. Se pudesse, ficaria os séculos observando aquele espetáculo. Mas o tempo passa, não é? E para ele não seria diferente. Cresceu, ampliou horizontes. Conheceu novos animais, aprendeu novas técnicas. Mas as aranhas nunca deixaram seu centro de atenções. Escorpiões, gafanhotos, lagartas, libélulas, nenhum desses oferecia a seu paladar requintado o mesmo prazer que os aracnídeos. No entanto, eram criaturas muito pequenas. Mesmo os maiores espécimes da sua diversificada coleção por vezes entediavam-o. Além disso, tinha um desejo incontrolável. Era mais do que vontade, tornou-se necessidade, obsessão. Quem seria seu voluntário? Difícil encontrar alguém. Como estava no ramo da bioquímica, em contato com hospitais e necrotérios, foi relativamente fácil encontrar um cadáver abandonado, com o pretexto de testar uma nova droga. Começou com cadáveres, sim, mas sentia falta do calor. O contato gélido repugnava-o. Gostava de sentir a temperatura elevada das atividades físicas, de sentir o pulsar do sangue nas veias. Então passou a capturá-los vivos. Crianças com mais freqüência, adultos quando estava faminto. Suas amigas ofereciam-lhe todo o veneno necessário. Tentou criar algo parecido, mas nada era tão eficaz na liquefação dos órgãos quanto o produto original, fabricado pela própria Mãe Natureza. Infelizmente, não tinha presas naturais, recorria às adaptações. Seringas em diferentes partes do corpo aceleravam o processo. Todo aquele teatro enchia-lhe o coração de emoções nunca antes experimentadas. Vê-las debatendo-se enquanto os tecidos viravam sopa de verduras era algo intangível. Quando a sopa estava pronta, abria uma fenda à altura do umbigo e embebia-se naquele sumo de células e líquidos viscerais, com o sutil sabor do veneno que não lhe causava mal algum. Sua estrutura adaptou-se à rotina. Não sentia atração pelos pratos mais requintados, no entanto enchia-lhe os olhos a visão de alguma criatura suculenta. Descia cada vez mais, abdicando da carreira bem sucedida. Vivia pelos becos, à espreita de algum mendigo ou prostituta descuidados. E decaía. E sucumbia. E já não era humano. Não, aquilo um dia fora humano, num passado bem remoto. Não se poderia chamá-lo de Homo sapiens. Asqueroso, insalubre, insano. Vivia pelos instintos, atacava conforme necessitasse. Um ser criado pelo vício. Não o tabagismo, ou alcoolismo. Era a Aracnofilia. A aracnofilia mais explícita e completa que se pode imaginar. Observava, estudava, absorvia tudo sobre aracnídeos, mas a sua paixão era tão intensa e descontrolada, que não se conteve. Queria aranhas, tornou-se uma.

(Dhay S.