quinta-feira, 26 de maio de 2011



Aquela nuvem parecia uma baleia. Bem ao estilo Moby Dick, uma daquelas imagens que vemos quando crianças e ficam guardadas na memória. Como quando você sente o cheiro de algodão doce e lhe vem à mente aquele dia de primavera no parque. Foi assim. O céu estava claro, de um azul límpido, pela primeira vez depois de muitas semanas de chuva, e aquela nuvem solitária pairava numa paz imperturbável. Instantes depois, um vento brincalhão, sem nenhuma intenção maldosa, só uma brisa suave levantando meus cabelos, e aquela baleia se foi. Era uma vez uma baleia. Um sopro do destino, um retoque do azar. Acabou. 

terça-feira, 17 de maio de 2011

Tuas mãos, tão quentes. Teu sorriso torto. Cativavas-me de um modo tão incomum e intenso, eras diferente. Deveras pudesse explicar o inexplicável. Anseio de compreender o indizível. Assimilar os segredos que a mim confiaram teus olhos. Essa dádiva não me foi concedida. Que tortura, que tormento! Quão ensandecida fiquei ao me ver cercada de tão doces carícias, com tuas quentes mãos! Quão alienada sentia-me ao admirar teu torto sorriso sob a lua. Nossa confidente. Tua amada. A ela segredávamos as lascívias dos nossos encontros. E só com ela eu vivia, só enquanto ela pairava calma e serena, porque só com ela eu tinha a ti. O amanhecer infligia-me um não sei quê de amargura e tristeza. O sol trazia-me dor, e aspirava a cada segundo por te poder encontrar novamente no nosso Paraíso. Nossas noites no Paraíso. Baixava os olhos e em instantes você galgava os degraus, rígido, tenso. Nervosismo passageiro. Que metamorfose operava-se no teu humor! Logo era outro homem, o meu homem, aquele que me entorpecia com seu hálito convidativo. E as noites tão curtas. Fugidio, escapava-me por entre os dedos quanto mais te apertava para te prender junto a mim. Por que foges, amado? Que alarme soa em ti avisando a hora de ir? Cerro as cortinas, tentativa inútil de reter por mais alguns minutos teu perfume doce e desencadeador dos meus enlevos. Mas aos primeiros raios da estrela maior já te tornas enevoado. Sombra iluminada a vagar pelo quarto. E vai-se. Solidão e temor sufocam-me sem ti. Memórias outrora esquecidas ressurgem para me assombrar. Que culpa tive eu, amado, por esquecer o cianureto sobre a mesa? Por acaso foi com más intenções que o derramei em teu vinho?! Ah, meu querido, essas imagens malévolas e arrogantes maltratam-me, humilham-me! São perversas, cruéis, não as mereço! Queria estar junto a ti, afogar-me em teus beijos todas as horas do dia. Perder-me entre teus cabelos, overdose do teu cheiro. Oh, manhã cruel! Torturas incabíveis habitam sob a luz do sol e já não posso conter-me. Quero a noite, quero a lua, quero a ti, abarcando cada centímetro de minha pele, inundando meus sentidos, sorvendo tudo de ruim que passei. Viver só para ti e contigo. Noite eterna, Vida eterna em teus braços. Não o posso conseguir aqui, nesse mundo de luz, cheio de som e fúria, preciso de outro lugar, mais quieto e calmo, confortável, para sermos sublimes. Preciso do nosso paraíso! Eternamente, no nosso Paraíso. E com os contatos certos, foi fácil encontrar alguns miligramas de estricnina. Suponho que irrisórios 140 mg serão suficientes. Em breve, muito breve, em instantes estaremos juntos, amado. Estarás vindo para mim com a costumeira linha tensa entre os lábios, com as ínfimas rugas de desconfiança. Nós, meu amado, só nós. Eternamente sem sol, unicamente a luz pálida da nossa Lua. Para sempre, sempre, sempre...

Responda-me: já se decepcionou com alguém? Inúmeras vezes. Já teve expectativas frustradas? Mal se lembra quantas. Eis um erro cometido pela massa. Para construir uma vida mais amena, para suportar as atribulações, apoiamo-nos em outrem. Esperamos que o outro também seja assim, queremos, ansiamos que eles também se apoiem em nós, para equilibrarmos a balança – tudo tem que ser na ponta do lápis, toma lá, dá cá. Oferecemo-nos para levar as compras, ouvimos todas as mágoas, atribuímos responsabilidades, sempre com uma esperança, sempre nutrindo uma idealização. Depois de algum tempo, irão nos retribuir. Dar-nos-á carona, apresentará soluções a nossos problemas, emprestar-nos-á algumas somas em dinheiro. Ledo engano. Não importa o quão bom você é para uma pessoa, nunca deposite esperanças demais, não crie muitas expectativas. Elas não serão correspondidas. Se os forem, será de um modo falho e inútil. Não adianta. É assim. Você sempre dá, nunca recebe. E então, a balança pende para um lado. Equilíbrio perturbado. Mas você acredita na bondade, haverá uma luz no fim do túnel. “Invés de luz, tem tiroteio no fim do túnel.” Renato profetizara. E exatamente isso encontrará. Não haverá cavalheiros e senhoras boazinhas que te ajudarão a crescer. Ele não segurará sua mão. Elas não suportarão suas lamentações, ponto. Mas continua. Não quer enxergar, não aceita. Ainda tem fé na humanidade. Ainda crê em boas intenções. Extinguiram-se há muito tempo, lamento. Procure pelos quatro cantos do mundo, em qualquer hemisfério, não encontrará. Todas as relações norteiam-se pelo interesse, rede de intrigas para conseguir a melhor posição, jogo de mentiras para derrubar o oponente. Cada um quer o melhor para si, e assim que deve ser. Numa análise mais profunda, pense bem: suas intenções também são interesseiras. Veja, se esperava ser retribuída pelas suas ações, pela amizade que devotara, então é porque queria algo em troca. Interesse. Só foi ingênua em pensar que essas normas ainda são válidas. De qualquer modo, está presa nesse mundo de hipocrisia. Até mesmo você, julgando-se a perfeição personificada, corrompeu-se pelas instituições levianas as quais nos comandam. Agora tem uma escolha a fazer. Continuará com essa postura inocente de amor ao próximo, tendo suas expectativas frustradas, todas, sem exceção? Assumirá uma política de ataque, defendendo-se das esperanças? Seria o melhor a fazer. Calma, ainda restarão algumas alegrias, deveras encontre algum resquício de lealdade pelas estradas. Entretanto, Humberto já deixou sua marca: “Não levo fé nenhuma em nada.

Happy Friday 13th!

sexta-feira, 13 de maio de 2011

Gato preto, escadas, existem mil e uma superstições sobre a Sexta-feira 13. 
Mas nenhuma é tão real e assustadora quanto o fodástico Jason!





Uma desastrosa e perigosa Sexta-feira 13 pra todos! (:

Paz no Ibirapuera

quinta-feira, 12 de maio de 2011

- Então, preparado pra passeata? 
- Que passeata?
- A passeata pela paz, neste domingo, no Ibirapuera!...
- Ah, não, vou passar longe!
- Por quê? É uma bela causa.
- Não, não, tô fora, não acredito na paz.
- Que isso, rapaz? É só uma passeata, não precisa filosofar.
- Não tô filosofando, só entro no que acredito. Não vou participar de uma passeata pela paz só pra parecer bacana.
- Não pra isso, mas pra mobilizar as pessoas.
- A quê? A viver em paz? Não nascemos pra ter paz. Isso não é um atributo dos humanos. Os homens nasceram pra guerra, pra inquietação, pro movimento, não pra paz.
- Não entendo. E as pessoas que viveram pela paz? Os grandes líderes religiosos?
- Isso não é paz, é outra coisa.
- Eu acho que a humanidade ainda viverá em paz.
- Quem acredita nisso ou é ingênuo demais ou é pilantra. O mundo precisa é de guerra. São as pessoas nervosas que mudam o mundo, que fazem a roda girar
- E Gandhi, Jesus, Buda?...
- Gandhi ok, talvez. Jesus não, era um subversivo, um riponga porralouca, bagunçou o coreto do império romano, pregava o amor livre
- "amai-vos uns aos outros"...
- E aquela imagem de Buda em meditação eterna?
- Aquilo não era paz, era sobrepeso. Como o cara não podia se mover, ficava lá, paradão, só curtindo, tirando onda de sereno. A paz não tá com nada, já falei. Puro marketing.
- Como assim, marketing? - Tem causa mais simpática do que essa? É claro que isso angaria a simpatia dos normais. Fale sobre a paz em um show, uma peça, uma conversa de bar e você verá o efeito que causa nas pessoas. Alguns são até capazes de chorar.
- Você tá é amargo, isso sim.
- E você tá crédulo demais pro meu gosto. Não há nada que venda mais que a bondade, meu caro. Vá a uma livraria, veja quantos livros falando de amor, de compaixão, do bem contra o mal... Balela, tudo balela.
- O bem existe, não é balela.
- Mas o mal é mais forte.
- Eu acredito na paz.
- Eu não.
- ...
- A paz vende, meu caro. A paz é um bom negócio. Se bobear, mais rentável que a guerra. 
- Eu também não acredito em paz plena, mas acho que um gesto como esse, uma passeata, as pessoas de branco, mãos dadas, tem um simbolismo forte...
- Tem, tem sim... O cara vai à passeata, dá as mãos a um estranho, fala manso e, na volta para casa, arrepia no trânsito e xinga o primeiro cristão que cruzar seu caminho, que não lhe der a vez, que buzinar nas suas costas...
- Deus do céu!...
- Você acha que neguinho tá preocupado com a paz no mundo? Tá preocupado é com a paz no seu mundo, seu mundinho, seu conforto de condomínio, todos com medo do entorno. Escreve aí, essa passeata é um ato de egoísmo.
- Isso pra mim tem nome, é amargura.
- Então tá, vou organizar uma passeata pela afirmação da amargura... Estão todos muito felizes, todos muito empenhados nessa cruzada pelo bem-estar, pela paz... Mas na real, no dia a dia, nego só quer o seu pirão primeiro.
- Eu acredito na paz.
- E eu em duendes.
- Pra mim chega, você tá impossível hoje. Tchau, fica com Deus!
- Vá com Ele. E descanse em paz!