Exaustão

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012


Cansei de pessoas superficiais. Cansei desse tipo de gente supérflua e fútil. Por favor, não entremos no senso comum de futilidade. Trato aqui da futilidade da alma, e não do corpo. Pouco me importa se alguém se preocupa com a estética, com seu cabelo, bunda ou unha. Quem me cansam são essas pessoas que sentam horas em frente à tv só para ver algumas outras pessoas, igualmente fúteis e supérfluas, dançando suas danças pornográficas e bebendo suas bebidas podres. São essas pessoas, incapazes de se preocupar com o outro, que me reviram o estômago. Essas tais pessoas, para o bem de si mesmas e vergonha geral da nação, viram as noites perambulando pelos motéis à procura de sexo, drogas e funk. Infelizmente, tudo isso não tem o motivo nobre de autossatisfação, muito menos serve para curar algum vazio interior. Não, elas são muito superficiais para isso. Procuram tudo isso apenas para ganharem algum tipo de reconhecimento. Esperam que os outros observem seus feitos e apreciem-nas por isso. Como diz certo viral: você está fazendo isso errado. Seus amiguinhos podem até lhes dizer algumas congratulações ou admirações. Mas, no fundo, você sabe o que todos pensam. No momento de euforia dizem ais e tais, e depois intimamente te escracham. Porque eles conseguem ver o ridículo papel a que você está se prestando. Entendam, não digo aqui que qualquer um que saia pelas noites de bar em bar seja fútil, longe disso. Mas é fácil distinguir quem faz isso por puro prazer pessoal ou por insegurança. Porque é isso que os fúteis são: inseguros. Não confiam o suficiente em si próprios e necessitam de algo em que se apoiar. E é isso que me cansa. Essa falta de perspectiva, de opinião, de vontade própria. Ainda mais: a intransigência, a hipocrisia, a mediocridade e, acima de tudo, o pensamento pequeno. Pessoas de pensamento pequeno e mente fechada me cansam ao extremo. Essas são, talvez, uma das piores. Acomodam-se com pouco e não tem ambições. Por favor, não confundam ambição com ganância. Uma é fundamental à vida, à evolução, enquanto a outra é um cancro no caráter de alguém.  Aliás, pessoas me cansam. 
E quanto mais as conheço, mais prefiro meus animais.


Feliz velho ano-novo!

quarta-feira, 25 de janeiro de 2012


O primeiro mês do ano já se foi. Muito rápido para alguns, bastante lento para outros. Muitos casos irrelevantes, uns poucos até pitorescos. Uma retrospectiva não é necessária, todos lembram muito bem dos fatos que iniciaram o ano (vai dizer que esqueceu a Luiza?). A verdade é que, apesar de toda essa depredação, o mês de janeiro se passou como qualquer outro. As pessoas continuam nos seus míseros empregos, continuam reclamando das segundas-feiras, continuam criticando a garota estranha.  O sol nasce no leste e se põe no oeste. As fases da lua ainda são quatro. Ninguém cumpriu as promessas feitas à meia noite. As apaixonadas continuam chorando, as deprimidas continuam chorando, as depressivas continuam se cortando. Os namorados ainda têm amantes, os boêmios ainda bebem mais cerveja que o possível, os vadios ainda não fazem nada. Os cachorros e as crianças estão nas ruas. Os políticos estão no Planalto. E depois de todo aquele ritual de fim de ano, tudo volta ao normal. Então, digam-me, por que 2012 é um novo ano? A meu ver, nada mudou. Dizem os mais novos que idade não define maturidade, e sim as atitudes. De modo análogo, só porque um algarismo está diferente, não significa que este seja um novo ano, não é mesmo?  Sabe o que caracterizaria um ano novo? Pessoas mais. Mais amigáveis, mais bondosas, mais gentis. Pessoas menos. Menos rancorosas, menos intolerantes, menos hipócritas. Mais pessoas que olhassem para o outro com humanidade, que tentassem enxergar a essência do outro, por trás de toda máscara de tinta e poeira que ele tentou construir. Aliás, é exatamente disso que o ano precisa: pessoas mais humanas. Quem habita este planeta hoje, sinto-lhes dizer, são criaturas sem o menor senso de humanidade. Afinal, concordem comigo, alguém capaz de abandonar um recém-nascido num lago não é humano. Alguém que arrasta uma criança pelo asfalto não é humano. Alguém que se banha em dinheiro, vendo outras pessoas morrendo de inanição, não é humano. Alguém que espanca um desconhecido, só pelo fato de ele ser diferente, não é humano. Isso passa longe de ser humano. Não precisa ser a Madre Teresa de Calcutá ou ter uma vida de abstinências em prol dos outros. Não sejamos extremistas. Um sorriso afável, um abraço sincero, menos mentiras, mais reciprocidade, esses simples atos, pequenos para quem os faz, enormes para quem os recebe. Algumas mudanças na rotina, apenas estender o olhar ao seu redor, enxergar o outro como ser humano que necessita de certos cuidados, assim como você. Para começar, esqueça essa ideia de superior. Ter uma coleção de livros ou um carro importado não te dá o direito de humilhar ninguém. Só porque você tem um Mac, não significa que pode pisar em quem usa Linux. Diferenças existem, e não há nenhum padrão do que é certo ou errado. Ninguém é melhor porque é católico ou hetero. Entenda, as pessoas não são piores que você, são apenas isso: diferentes. Basta desse pensamento ridículo do que é certo, chega de mesquinhez e cérebro pequeno. E isso vale para toda e qualquer diferença, tá? Veja bem:  Q-U-A-L-Q-U-E-R  D-I-F-E-R-E-N-Ç-A. Depois de compreender isso, vai ser possível conviver em sociedade. Com pessoas mais tolerantes, menos hipócritas, mais sinceras, menos egoístas, mais humanas, enfim, talvez possamos ter um ano novo, um real ano novo. Se 2012 continuar assim, só nos resta torcer para 2013 ser novo. 
Isso se o mundo não acabar.


Terra Adorada, salve, salve!

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

Poucos hinos nacionais são tão esplêndidos como o do Brasil. Com suas figuras de linguagem e inversões de termos, descreve com glória o sentimento eufórico e utópico da época da independência. Entretanto, as alusões ao futuro resumiram-se a somente isso: utopia. O romantismo, ao seu tempo e modo, fora contaminado também por esse espírito de liberdade. Gonçalves Dias, se compusesse hoje sua célebre canção do exílio, talvez dissesse:


Minha terra?
Lá não há palmeiras, muito menos sabiá.
As aves que aqui gorjeiam nunca passaram por lá.

Joaquim Osório (o autor do hino, para quem não sabe) ficaria decepcionado se hoje pudesse ver o Brasil do seu povo heroico. E não havia como ser diferente. Billy Halleck diria que é assim que tem que ser. Nossa independência não foi retumbante, caro Joaquim. Apenas uma jogada de estado, do nosso aclamado Dom Pedro. O seu povo heroico não participou da Independência, não deram grito nenhum, muito menos lutaram até a morte.
Pois te digo que o arraial de Canudos lutou, gritou, resistiu até o último velho e a última criança contra bandos enfurecidos de soldados. O pessoal de Contestado também lutou. E não ousam sequer a pôr o nome de uma avenida como Conselheiro. Ao contrário, fazem de tudo para eclipsar sua memória. A barragem sobre a antiga cidade é prova disso. Porque ele é o símbolo da resistência. Enaltecer seu nome seria dar motivo de esperança às massas. E isso é errado. Massa não pensa, massa se manipula. Fazê-la pensar é atentar contra a ordem natural. Igualdade? Não havia igualdade, nem em 1822 nem agora. O seu Brasil, cujo futuro espelha a grandeza do território, é excludente e perverso. Tietes de Lula, não me crucifiquem. Mas, enquanto idolatram o populista pai do povo, deixem a propaganda um pouco de lado. Educação? Centenas de escolas foram abertas. Procurem saber da qualidade de cada uma antes de qualquer coisa. A prelazia agora é pelo quantitativo, nada de qualitativo. Porque o brasileiro, aquele do braço forte e grito retumbante, gosta de números. Mapas com imensos pontos vermelhos e números bem grandes. Ao tempo que algumas famílias recebem auxílio isso, auxílio aquilo, mendigos dormem sob os viadutos; crianças e mulheres, fugindo do marido violento, enchem as calçadas em busca de alguns trocados para comprar pão; mazelas abandonadas, sequer levadas a sério. E o seu país, o que faz? Aumenta salário de prefeito e deputado, gasta bilhões com obras atrasadas para a copa. Em uma certa propaganda das olimpíadas, as favelas do Rio foram apagadas do cartaz. Nada além do esperado. Essas construções são uma vergonha para o país do futebol, do samba e da mulata bonita. Um cancro a ser combatido. Pacificação? Propaganda, meu irmão! Como certificação de paz durante esses dois eventos, é necessário começar logo, mostrar resultados aos gringos. É a mesma história daquelas “leis para inglês ver”
E os teus bosques, ó Brasil, estes são dignos de piedade. O que resta da formosa Mata Atlântica? Alguns míseros tufos de vegetação, circundada pelo concreto. A Amazônia, pobre dela, sofreu todo o tipo de degradação. Pastagens, soja, exploração da borracha e da madeira. O polo industrial de Manaus, um cigarro no pulmão do mundo (termo obsoleto, desculpe; o certo seria ar condicionado do mundo). O teu povo, Joaquim, o povo do teu Brasil utópico, foge à luta. Enquanto em outros países os jovens brigam com a família para entrar no exército, aqui vemos inúmeras campanhas exibindo o heroísmo dos nossos soldados para incentivar alguns homens a se alistarem. E o patriotismo fica em segundo, terceiro, último plano, brother! Produtos nacionais não prestam, só os americanos. E vejam que contradição. O próprio país incentivou tais preferências. Sempre fora quintal dos Estadunidenses (daremos a eles o nome apropriado; afinal, a América também é dos americanos).
Brasil, terra adorada. Com suas epidemias e corrupções. Com sua violência e estupidez. Sempre idolatrando os maiores. Procurando os culpados e julgando os inocentes. Desenvolvendo soluções e criando mais problemas. Esse é o nosso Brasil, a Mãe Gentil, a Terra Adorada. Até quando, Brasil?



segunda-feira, 5 de setembro de 2011


Observei-a de longe, e algumas conclusões pude tirar. Aparentava ter consigo uma tristeza imensa. Mas não algo incontido, desesperador. Era uma dor calma, se é que isso existe. Quase como se a aceitasse, e já não pudesse viver sem ela. Aquela tristeza a acompanhava há tempos, desde quando parou de escrever. Pude perceber isso, mesmo sem me aproximar. Ela tinha um ar de escritora cheia de estórias guardadas. As frases sublevavam-se por seus olhos e em instantes pude deduzir toda sua história. E sempre aquela tristeza. Estavam juntas desde que aprendera a viver sozinha. Cansou de esperar pelos outros, de sofrer sozinha. Agora tinha uma companheira. Iguais, autossuficientes. E conviviam bem, até. Estavam em harmonia. Ela e sua tristeza infinita, duas irmãs siamesas.
“Quando você pensa que está tudo uma merda, olha para o lado e vê um espelho. Através dele, não está o seu reflexo, mas o seu passado. Tanta coisa aconteceu! Tantas barreiras, tantas pedras, tantas quedas. E elas não foram em vão. Trouxeram-te até aqui. Pode não ser o melhor da vida, mas é resultado do que você já vivera. Então olha outro espelho, e nele encontra o seu futuro. Diferente do que você queria, mas suficiente para ser feliz. Pode não ser o seu conceito de felicidade agora, mas será no futuro. Creia nisso, você será feliz. Ou não.