Tuas mãos, tão quentes. Teu sorriso torto. Cativavas-me de um modo tão incomum e intenso, eras diferente. Deveras pudesse explicar o inexplicável. Anseio de compreender o indizível. Assimilar os segredos que a mim confiaram teus olhos. Essa dádiva não me foi concedida. Que tortura, que tormento! Quão ensandecida fiquei ao me ver cercada de tão doces carícias, com tuas quentes mãos! Quão alienada sentia-me ao admirar teu torto sorriso sob a lua. Nossa confidente. Tua amada. A ela segredávamos as lascívias dos nossos encontros. E só com ela eu vivia, só enquanto ela pairava calma e serena, porque só com ela eu tinha a ti. O amanhecer infligia-me um não sei quê de amargura e tristeza. O sol trazia-me dor, e aspirava a cada segundo por te poder encontrar novamente no nosso Paraíso. Nossas noites no Paraíso. Baixava os olhos e em instantes você galgava os degraus, rígido, tenso. Nervosismo passageiro. Que metamorfose operava-se no teu humor! Logo era outro homem, o meu homem, aquele que me entorpecia com seu hálito convidativo. E as noites tão curtas. Fugidio, escapava-me por entre os dedos quanto mais te apertava para te prender junto a mim. Por que foges, amado? Que alarme soa em ti avisando a hora de ir? Cerro as cortinas, tentativa inútil de reter por mais alguns minutos teu perfume doce e desencadeador dos meus enlevos. Mas aos primeiros raios da estrela maior já te tornas enevoado. Sombra iluminada a vagar pelo quarto. E vai-se. Solidão e temor sufocam-me sem ti. Memórias outrora esquecidas ressurgem para me assombrar. Que culpa tive eu, amado, por esquecer o cianureto sobre a mesa? Por acaso foi com más intenções que o derramei em teu vinho?! Ah, meu querido, essas imagens malévolas e arrogantes maltratam-me, humilham-me! São perversas, cruéis, não as mereço! Queria estar junto a ti, afogar-me em teus beijos todas as horas do dia. Perder-me entre teus cabelos, overdose do teu cheiro. Oh, manhã cruel! Torturas incabíveis habitam sob a luz do sol e já não posso conter-me. Quero a noite, quero a lua, quero a ti, abarcando cada centímetro de minha pele, inundando meus sentidos, sorvendo tudo de ruim que passei. Viver só para ti e contigo. Noite eterna, Vida eterna em teus braços. Não o posso conseguir aqui, nesse mundo de luz, cheio de som e fúria, preciso de outro lugar, mais quieto e calmo, confortável, para sermos sublimes. Preciso do nosso paraíso! Eternamente, no nosso Paraíso. E com os contatos certos, foi fácil encontrar alguns miligramas de estricnina. Suponho que irrisórios 140 mg serão suficientes. Em breve, muito breve, em instantes estaremos juntos, amado. Estarás vindo para mim com a costumeira linha tensa entre os lábios, com as ínfimas rugas de desconfiança. Nós, meu amado, só nós. Eternamente sem sol, unicamente a luz pálida da nossa Lua. Para sempre, sempre, sempre...
terça-feira, 17 de maio de 2011
Postado por Dhay S. às 18:42
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2 comentários:
E nenhum comentário que eu faça será o bastante para conseguir elogiar o suficiente. Desisto --'
Você que me enche de orgulho. vou ficar mal acostumada com seus elogios! *-*
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