terça-feira, 12 de julho de 2011

Estava acostumada a viver sozinha. As pedras do caminho deixaram-na rígida. Auto-suficiente, como ela sempre ansiou. Aquele vazio já não a incomodava, sentia-se tranqüila na sua própria rotina. Livros, música, vinho. Esses pequenos prazeres a satisfaziam, não precisava de mais nada, não precisava de mais ninguém. As férias, entretanto, a surpreenderam. Foi um sopro do destino com uma pitada de sorte. Algumas colheres de bom humor e uma dose de festas. Um sorriso encantador. Dentes brancos como aquela nuvem passageira. Olhos carinhosos que a seduziram. Ombros largos onde podia cravar suas unhas afiadas. Ele encaixava-se com perfeição nos seus planos. Além disso, era diferente. Era natural, sem esforços. Tudo o que ela procurava, só alguns ínfimos detalhes não lhe convinham. Ele a fazia bem, entende? Não era o estereótipo de homem perfeito, não era intelectual nem bem sucedido. Era bonito, decerto, e carinhoso. Mas nada que fizesse derreter qualquer coração de gelo. Todavia, era o que ela queria, o que ela precisava. Bebia, não lia, cometia alguns erros de português. Imagine! Logo ela, que admirava sobretudo uma boa gramática, relevar suas infrações! E relevava. Deixava passar, achava graça, ria por vezes. E achava bonitinho quando ele pronunciava o “s” do plural com tanto esmero. Ele a cativava de um modo singular, que só eles compreendiam, só ela reconhecia. Com surpresa, percebeu uma esperança crescente. Sentia um desejo incomum de permanecer a seu lado, de continuar nesse estado de bem-estar. E desejou que essas férias não de findassem. Desejou que aquela semana se prolongasse por mais tempo. Desejou. Ansiou. Esperou. Rezou. Gritou. Sem sucesso. A semana iria passar de qualquer maneira, não importando seus esforços.  E uma mórbida sensação a invadiu. Um misto de perda e morte, solidão e abandono. Quis chorar, espernear, pôr para fora a criança mimada que um dia fora. Mas ela cresceu, aprendeu que chorar não afasta as perturbações. Então, ela só queria terminar essa semana com o seu aspirante a amor. 

“Que não seja imortal, posto que é chama
 mas que seja infinito enquanto dure.”
(Soneto da Fidelidade - Vinícios de Morais)

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