quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

Pobre sra. D. Luísa, esposa de Sr. Jorge, o Engenheiro. Uma boa rapariga, exemplo de esposa. Fresca, asseada, belas melenas louras, toda apertada num corpete, e o pé! ah, que belo pezinho! E todo o que queria era o seu Jorge, o seu maridinho, estendido na voltaire,  e um pequerrucho a correr-lhe pela sala! Mas o que sucedeu de sua vida? Porque o passado sempre volta. E o Sr. Basílio voltou. O Sr. Basílio, seu primo e antigo namorado, o Sr. Basílio que foi ao Brasil construir fortuna e deixou-a abandonada em Lisboa por causa do clima e dos mosquitos da Bahia! E não poderia ter vindo em ocasião mais importuna, enquanto o seu Jorge estava no Alantejo. Achou-a saudosa, necessitada de carinhos. Estava fragilizada pela separação do seu marido, coitada! E vendo ressurgir a figura esbelta e elegante do seu primo, sendo cativada com palavras doces e afáveis, tendo reacendida a lembrança das tardes em Sintra, deixou-se enamorar pelo Primo Basílio. Amo-te, Luísa! Ficarei em Lisboa, deixarei a formosa Paris para ficar ao pé de ti, para poder ver-te aos domingos no Passeio, para beijar-te a mão no Teatro! E a pobre Sra. D. Luísa, enternecida por essas palavras e aqueles gestos de amor, abandonou-se nos braços do Basílio. Dispôs-se a ir ao Paraíso, numa caminhada maçante, debaixo de todo aquele sol, para encontrá-lo numa casinha apertada e atirar-se numa cama de ferro. Estar ao alcance daqueles carinhos vis e imorais, entregar-se a outro homem que não seja seu marido, porque achou-se apaixonada. Teve toda a vida atirada aos porcos por causa das palavras do janota do Basílio. Amou-a, deveras? Sequer por um segundo. Estava sem companhia para o tempo que estivesse em Lisboa, procurou a prima das aventuras infantis. “Quisera-a por vaidade, por capricho, por distração, para ter uma mulher em Lisboa! É o que era! Mas amor? Qual!” Cortejou-a pois para ter nas mãos seu coraçãozinho. E a pobre Luísa, a Luisinha do Engenheiro, que só queria a sua vidinha, foi morta por uma carta. Aquela carta amassada, denunciadora, roubada pela criada, a Sra. Juliana. Uma víbora, essa mulher. Coitada da Sra. D. Luísa! Uma mártir! Carregou a cruz pelo seu erro, um erro reconhecido, uma culpa jamais esquecida! Padeceu no inferno, nas suas últimas semanas de vida. Foi desgraçada por uma paixão ilusória. Percebeu que não amara Basílio. “E como uma pessoa que destapa um frasco muito guardado, e se admira vendo o perfume evaporado, ficou toda pasmada de encontrar o seu coração vazio.” Teria uma linda vida com o seu maridinho e o seu pequerrucho, mas o destino foi cruel e veio cobrar-lhe a dívida pelo seu pecado. Ao fim de algumas semanas, veio a suceder o seu enterro. E o Sr. Basílio, ao retornar a Lisboa, só ressentiu-se por não ter trazido a Alphonsine! Canalha! Uma senhora tão polida, tão honesta, perde-se por um figurão, e não lhe deita ao menos uma palavra de remorso! O que sucederá a ele? O futuro é incerto. No entanto, ele pode muito bem ser cruel com homens dessa espécie.

2 comentários:

Anônimo disse...

AAAAADOREI *-* Deu até vontade de ler, hehe.
Como sempre, você escreveu de maneira perfeita ♥

Dhay S. disse...

Sinto-me honrada por influenciar uma leitura tão clássica. :) E obrigada pelo elogio!

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