Aceite os fatos. Você cresce um dia. E não adianta a mamãezinha ficar te abrigando sob a barra do vestido, porque a vida é cruel, ela rasga laços e fitas. Pois bem, querida, seu filhinho um dia vai embora. Ele um dia terá que trilhar seu próprio caminho. Seja com
16 anos ou 36. Não percebe que tudo o que o impede de alcançar o topo é você? Que a todo o momento segura-o pelos cabelos e obriga-o a não chegar tarde em casa. E quando a realidade aparecer, tarde demais. Ele vai ser um adulto criança. Com o tamanho de um boi e a maturidade de uma ervilha. Assim ele não vai a lugar nenhum! Mas também não pode ficar contigo. O que ele faz? Vai embora, é. Tenta montar a vida, construir castelos. Mas estava sempre tão confiante que nunca precisaria andar sozinho, que nunca soltou a mão da mamãe e as pedras de sustentação foram substituídas por grãos de areia. Atingida pelo vendaval da mudança, a areia se foi. Então onde ergueria seu castelo? Em lugar nenhum, exato. Passará o resto de seus dias na lama. Nadando com jacarés e piranhas prestes a te devorar. E não poderá defender-se. Nunca aprendera a lidar com gente má. Talvez com os fofoqueiros da escola ou os
badboys no bairro, mas não com gente má. Gente de verdade, que luta para sobreviver. Gente que está disposta a tudo. Gente que pode trair. Gente que pode mentir. Gente que pode matar. Não com essa gente. Essa gente não estará escondida nas sarjetas, esperando que alguém caia, não. Essa gente está pelo meio da pirâmide, está pelo topo. E assim que ele pisar os pés no mundo real, devorá-lo-ão. Sem o mínimo de piedade. O mundo não é piedoso, querido. Olhe para frente, enxergue a verdade! Você não está preparado! Não vale a pena lutar! Será massacrado, humilhado, execrado! Você é só um bebê mimado que sempre se escondeu atrás da mamãe. E agora?! Ela não o salvará. Não virá ao seu encontro para te dar colo. Não virá te confortar. Você é bem grandinho, meu filho, resolva seus problemas sozinho. E essa palavra, esse toque, doer-te-á mais que tudo. Ver-se-á numa terra de gigantes. Gigantes malvados, mamãe! Eles querem me comer! Não posso ficar aqui! Pare de chorar e enfrente o mundo, rapaz! Não te criei para ser um fracassado! Tem certeza? Certeza que não o estragou? Talvez ele pudesse ter sido um empresário de sucesso, alguém bem-sucedido. Mas você não o deixou voar. O mundo era perigoso, tinha muitos bandidos pela rua. Não o condene pelo fracasso. O erro foi seu. Única e exclusivamente sua culpa. Agora, assuma a criatura fraca e insossa que produziu. Ele é
sua responsabilidade.
(Dhay S.