O primeiro mês do ano já se foi. Muito rápido para alguns,
bastante lento para outros. Muitos casos irrelevantes, uns poucos até
pitorescos. Uma retrospectiva não é necessária, todos lembram muito bem dos
fatos que iniciaram o ano (vai dizer que esqueceu a Luiza?). A verdade é que,
apesar de toda essa depredação, o mês de janeiro se passou como qualquer outro.
As pessoas continuam nos seus míseros empregos, continuam reclamando das segundas-feiras,
continuam criticando a garota estranha.
O sol nasce no leste e se põe no oeste. As fases da lua ainda são
quatro. Ninguém cumpriu as promessas feitas à meia noite. As apaixonadas
continuam chorando, as deprimidas continuam chorando, as depressivas continuam
se cortando. Os namorados ainda têm amantes, os boêmios ainda bebem mais
cerveja que o possível, os vadios ainda não fazem nada. Os cachorros e as
crianças estão nas ruas. Os políticos estão no Planalto. E depois de todo
aquele ritual de fim de ano, tudo volta ao normal. Então, digam-me, por que
2012 é um novo ano? A meu ver, nada mudou. Dizem os mais novos que idade não
define maturidade, e sim as atitudes. De modo análogo, só porque um algarismo
está diferente, não significa que este seja um novo ano, não é mesmo? Sabe o que caracterizaria um ano novo?
Pessoas mais. Mais amigáveis, mais bondosas, mais gentis. Pessoas menos. Menos
rancorosas, menos intolerantes, menos hipócritas. Mais pessoas que olhassem
para o outro com humanidade, que tentassem enxergar a essência do outro, por
trás de toda máscara de tinta e poeira que ele tentou construir. Aliás, é
exatamente disso que o ano precisa: pessoas mais humanas. Quem habita este
planeta hoje, sinto-lhes dizer, são criaturas sem o menor senso de humanidade.
Afinal, concordem comigo, alguém capaz de abandonar um recém-nascido num lago
não é humano. Alguém que arrasta uma criança pelo asfalto não é humano. Alguém
que se banha em dinheiro, vendo outras pessoas morrendo de inanição, não é
humano. Alguém que espanca um desconhecido, só pelo fato de ele ser diferente,
não é humano. Isso passa longe de ser humano. Não precisa ser a Madre Teresa de
Calcutá ou ter uma vida de abstinências em prol dos outros. Não sejamos
extremistas. Um sorriso afável, um abraço sincero, menos mentiras, mais
reciprocidade, esses simples atos, pequenos para quem os faz, enormes para quem
os recebe. Algumas mudanças na rotina, apenas estender o olhar ao seu redor,
enxergar o outro como ser humano que necessita de certos cuidados, assim como
você. Para começar, esqueça essa ideia de superior. Ter uma coleção de livros
ou um carro importado não te dá o direito de humilhar ninguém. Só porque você
tem um Mac, não significa que pode pisar em quem usa Linux. Diferenças existem,
e não há nenhum padrão do que é certo ou errado. Ninguém é melhor porque é
católico ou hetero. Entenda, as pessoas não são piores que você, são apenas
isso: diferentes. Basta desse pensamento ridículo do que é certo, chega de
mesquinhez e cérebro pequeno. E isso vale para toda e qualquer diferença, tá?
Veja bem: Q-U-A-L-Q-U-E-R D-I-F-E-R-E-N-Ç-A. Depois de compreender
isso, vai ser possível conviver em sociedade. Com pessoas mais tolerantes,
menos hipócritas, mais sinceras, menos egoístas, mais humanas, enfim, talvez
possamos ter um ano novo, um real ano novo. Se 2012 continuar assim, só nos
resta torcer para 2013 ser novo.
Isso se o mundo não acabar.